Trabalho de Literatura: A Semana de Arte Moderna- parte II

quinta-feira, 7 de junho de 2012
A INFLUÊNCIA NA ARTE BRASILEIRA
  A "Semana 22" inovou a linguagem, na busca da experimentação, rompendo as ligações com os antigos modelos.
  Na área das Artes Plásticas, houve grandes repercussões: o uso de cores mais abertas e chamativas, desenhos julgados "sem sentido"(surrealismo), que retratavam tanto a confusa mente de seus autores quanto a irreverência inovadora que caracteriza o modernismo e o pré-modernismo. A simples união de formas geométricas era mais valorizada entre os pintores, e a vida atual poderia ser retratada como era na realidade. Como influência do dadaísmo, era valorizado o destino, a ideia de que nem mesmo você tem controle sobre sua vida, e portanto, deve deixa-la fluir sem interferências; "Quando o vidro de uma das pinturas de Duchamp quebrou, ao invés de substituí-lo, ele deixou o quadro como estava-entregue a seu próprio destino".
  Houve também três "tendências", movimentos provenientes da Semana de Arte Moderna. São eles:
-Movimento Pau Brasil: lançado por Oswald de Andrade em 1924, em parceria com Tarsilla do Amaral, tinha por característica a sua posição primitivista e ingênu, redescobrindo o Brasil, inspirado nas vanguardas, renovando nossos conceitos sobre o país em que nós vivemos.
-Movimento Antropofágico: também fundado por Oswald de Andrade, que ironizava em seus textos, suas obras, o quão menor pode até a elite brasileira se sentia em comparação aos países desenvolvidos. Propunha a "Devoção cultural das técnicas importadas para reelabora-las com autonomia, convertendo-as em produto de exportação". É apresentada a lei do homem, 'Só me interessa o que não é meu". O mito critica a história do Brasil e seu passado colonial, que destruiu a natureza do indígena, além de sugerir uma substituição do sistema burguês patriarcal pelo sistema matriarcal da comunidade primitiva; "contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud (pai da psicologia)-a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama". Sem dúvida o caráter assistemático e o estilo telegráfico utilizados pelo escritor para dar forma e seu ideário antropofágico de certo modo contrbuem para a ocorrência de uma série de mal-entendidos. no entanto, a multiplicidade de interpretações proporcionadas pela "justa posição" de imagens e conceitos é coerente com a visão de Oswald de Andrade ao longo do discurso lógico-linear herdado da colonização européia. Sua trajetória artística indica que há coerência na loucura antrpofágica- e sentido no seu não senso".
-Movimento Verde Amarelo e Grupo da Anta: traz praticidade com textos ufanistas, idealizando o solo brasileiro.

  Tais movimentos eram divulgados por meio de revistas, tais quais:
-revista Klaxon: mensalmente, de 15 de maio de 1922 a janeiro de 1923. Leva tal nome devido as buzinas dos automóveis, já que era produzida para chamar a atenção.
-Revista de Antropofagia: criada por Oswald de Andrade, teve duas fases (ou dentições), na qual a primeira e a segunda não tiveram a demanda esperada.

  Na música, foram introduzidos os cantores, substituindo as orquestras.

  Assim, foram as repercussões do movimento:
-Rejeição das concepções estéticas e práticas artísticas românticas, parnasianas e realistas;
-Independência mental brasileira e recusa às tendências europeias em moda nos meios cultos conservadores;
-Elaboração de novas formas de expressão, capazes de aprender e representar os problemas contemporâneos;
-Transposição para a arte, de uma realidade viva: conflitos, choques, variedade... Expressões de um tempo e de uma sociedade.

A SEMANA DE ARTE MODERNA
  Foram muitos os fatos que facilitaram o acontecimento da "Semana 22'; o evento era eminente, já que mudanças eram necessárias no campo artístico.
-Em 1922 o autor Oswald de Andrade diz "Estamos atrasados cinquenta anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo" após voltar de uma viagem da Europa;
-Em 1913 o pintor lituano Lasar Segall realiza uma exposição de pinturas não acadêmicas, fora dos padrões;
-Em 1914 a artista Anita Malfatti se inspira nas vanguardas que pode compreender em sua viagem à Europa para fazer a "primeira exposição modernista brasileira";
-Em 1917 é publicado o livro "Há uma gota de sangue em cada poema", de Mário de Andrade, cujo objetivo era de protestar contra a Primeira Guerra Mundial;
-Em 1919 é publicado o livro "Carnaval" de Manuel Bandeira;
-Em 1921 Oswald de Andrade faz um discurso durante um banquete no Palácio Frianon, anunciando a chegada da revolução modernista no Brasil
-No mesmo ano ocorrem diversas exposições visuais, literárias ou cênicas, preparando a população para a revolução cultural.
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  A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal, com intento de divulgar uma nova era cultural, mais irreverente, fora dos padrões europeus, e criando uma nova estruturada na cultura essencialmente brasileira.
-Em 13 de fevereiro o evento foi aberto ao público. Estão espalhadas por todos os cantos pinturas e esculturas, e tal apresentação causou o desagrado geral, assim como o texto de Graça Aranha,"A emoção estética da arte moderna";
-Em 15 de fevereiro o músico Guionar Novais "traiu" seus companheiros ao tocar clássicos consagrados, Menotti del Picchia também fez uma palestra , mas é interrompido pela platéia ao apresentar os escritores modernistas. Neste mesmo dia Ronald de Carvalho lê o poema "Os sapos", criticando os parnasianos, dizendo que sua "arte" não tinha fundamento algum, e que os parnasianos se vangloriavam de serem cultos, mas eram apenas aparências: em conteúdo eram vazios:
"Enfunando os papos, 
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
 
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
 
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
 
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
 
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
 
Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
 
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
 
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
 
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
 
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
 
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
 
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
 
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
 
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio..."

-Em 17 de fevereiro, último dia da Semana de Arte Moderna, também foi o mais calmo; o caos se instala apenas quando Villa Lobos entra no palco com um chinelo e um sapato. O público interpreta tal vestimenta uma flata de respeito, como sendo uma alusão ao modernismo. Na verdade, ele apenas assim se apresentou porque estava com um calo no pé.

  Assim, a semana foi um marco entre o novo e o antigo, uma procura de identidade própria e uma maneira mais livre de expressão; ainda assim, a semana em si não teve grande importância em sua época, foi sendo valorizada ao longo do século pelos seus ideais inovadores.
  "Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição"- Mário de Andrade; falando em nome de todos os modernistas que não se sentiam úteis, pela reprovação geral do movimento.

POEMA E INTERPRETAÇÃO

"Moça Linda Bem Tratada
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.


Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo, 
Burro como uma porta:
Um coió.


Mulher gordaça, filó, 
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...


Plutocrata sem consciência, 
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba."
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"Moça Linda Bem Tratada
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor."
  Nesta estrofe, temos a expressão "três séculos de família', que indica o bom nome, a família por todos conhecida. A moça, apesar de bela, não é inteligente, e o autor fala dela ironicamente no último verso; todos só veem nela o dinheiro. O autor aqui quis transmitir a ideia de que, se não fosse rica, todos prestariam mais atenção aos seus defeitos que as suas qualidades, e usariam disso para fofocar. No contexto, representa a filha de burguesia, que não se preocupa com estudos, sendo altamente superficial.

"Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo, 
Burro como uma porta:
Um coió."
  Aqui é retradado o filho da burguesia, que não somente é superficial, mas também mostra em suas atitudes que ainda é em sua essência, um "caipira"

"Mulher gordaça, filó, 
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência..."
  Aqui, a mãe burguesa é retradada como uma "evolução" da filha. Não se contém em usar uma joia, deve mostrar para todos como tem dinheiros, comendo em bons lugares, usando joias e sendo mimada pelo marido e empregados.

"Plutocrata sem consciência, 
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba."
  A última estrofe representa mais que o pai burguês, representa o governo que monopoliza o dinheiro nas mãos da burguesia, impede, com suas cobranças absurdas de impostos, que quaisquer outros que não interessem ao governo, enriqueçam. 

Com as gerações, Mário de Andrade dá a ideia de continuidade: o filho tomará o lugar do pai, se casará com uma mulher burra, porém rica; estes, por sua vez, terão filhos: garotos mimados e meninas superficiais, que crescerão e tomarão o lugar dos pais. Tal ciclo não é apenas familiar, se referindo também ao dinheiro, que sempre será monopolizado pela burguesia, não dando aos mais pobre a oportunidade de ascensão socio-econômica.
  Quanto a métrica, o poema é livre. Sua linguagem é informal, considerndo que o modernismo é mais irreverente. Usa a expressão "Burro(a) como uma porta" para descrever o nível intelectual dos indivíduos, assim como "bomba" para descrever o pai.

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BJS caramelados,
Patty

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