Histórias da Vovó: as amizades que vem e vão...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
 La-la-ra-la-la-la, mais um dia na casa da vovó, mais um dia ouvindo as histórias de antigamente...

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  "Ela tinha acabado de se mudar para o condomínio, veio de São Paulo, não conhecia ninguém. E eu sempre gostei, como você sabe que a casa era bem grande, de convidar os amigos para irem lá... E eu sentia que essa moça precisava de uma amiga, principalmente vivendo sozinha, em um lugar totalmente desconhecido.
  Já fazia uma semana que ela morava no início da rua, e eu fui até lá, para convida-la a ir tomar um cafezinho, nos sábados, comigo e com as meninas. Ela aceitou; foi tão bom, ver o sorriso crescendo nos lábios dela, vendo que teríamos mais uma mulher conosco, falando da vida, falando dos filhos, do casamento...
  E ela veio: no dia, o chá foi na casa da Conceição, diferentemente do costume. E logo aquela estranha se tornou, assim como nós, parte do todo. Logo, estávamos dividindo nossos segredos com ela; logo, nossos filhos a chamavam de "Tia", e não de "Dona"; logo, ela ganhou nossa confiaça. Era verão e tudo estava bem.
  E assim foi por uns... 4 anos, talvez? Até que Maria veio falar conosco; uma de suas filhas estava com uma doença que hoje em dia é pouco falada, tifo. 2 semanas depois, Suzana estava morta, e Maria, desolada. 3 meses depois, o seu marido foge com sua empregada. Ela ficou na casa de ua das meninas por um tempo.
  E de repente, era como se nunca nos tivéssemos falado; umas se separaram, outras morreram, e de uma forma estranha, nunca nos víamos; coisa estranha para o que juráramos ser eterno, até que a morte nos separasse... Mas o essencial, é que cada uma delas foi ajudada por essa "nova" amiga, até mesmo eu, quando estava me separando do seu avô, mas logo voltamos, então, não precisei tanto de sua ajuda.
  Um dia, eu acordei, e fui caminhar, e vi umas mocinhas mais novas rindo, e olhando fixamente para mim. Outras das minhas amigas reclamavam que muitas mulheres não queriam andar com elas. E logo nós fomos tentar saber o motivo: todos estavam sabendo que uma delas tinha traido o marido; que outra estava pensando em ir em uma, uma daquelas mulheres que lidam com ervas, para tentar abortar seu próximo bebê, pois não queria ser mãe tão cedo; que outra, pensava em se suicidar, com tantos pesos (Maria); e eu, que não controlava meus filhos. Problemas que toda mulher terá, mas que quando 'caem na boca do povo", tanto são aumentados, como todos os fofoqueiros agem como se suas vidas fossem perfeitas. A primeira, realmente traíra o marido; a outra, já passava dos 40, e não podia ter mais filhos (ordem médica), e não queria engravidar (nem ao menos estava grávida); Maria blasfemou que a morte pode ser mais tranquila que a vida; e um dos meus filhos estava mal na escola e namoradeiro. Como se Rosa, a filha de uma das fofoqueiras, não dormisse com todo o condomínio.
  E nós fomos procurar a fonte, mas so recebíamos "não sei" ou "devo contar a alguém que não guarda os próprios segredos"?
  Mas um dia Conceição chegou em casa, falando que encontrou a nova menina na cama, com seu marido; ele achava que era sábado, e por isso ela estaria conosco. Não foi tão difícil descobrir a mulher de língua venenosa.
  E assim, ela foi banida dali. Ninguém falava com ela, e ela se isolou. Dois meses depois, ela foi embora, Maria voltou com o marido engravidou novamente... Hoje, muitas delas já morreram, mas... Nunca estaram completamente mortas, o espírito delas paira sobre minhas memórias. E a verdadeira amizade, dura, perdura, e perpetua, e chega viva e intacta depois da maré de obstáculos"

  Minha tia chega em casa. Ela cheira a goiabada, que logo vi, estava em uma bolsinha. Ela olha para a vovó é diz:
-Encontrei Dona Conceição, ela está mal, mamãe. Então, ela pediu que a senhora perguntasse as suas amigas se o chá pode ser na casa dela sábado

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BJS caramelados,

Patty

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