Família Cullen- capítulo 3- A convidada

quinta-feira, 11 de março de 2010
Melinda

Fui convidada por meu antigo professor, Dr. Andrew Scalzaria para fazer uma entrevista em seu Hospital. Eu sempre o admirei, seria muito realizador conseguir esse emprego. Mas... quantos não vão concorrer a esta vaga? Talvez eu não tenha nenhuma chance.

Estou muito entusiasmada, porém apreensiva. Tenho uma moto, não é lá o último tipo, mas já sabia que ir com ela era querer não passar - me molharia toda graças a neve que cai fina lá fora. Por sorte, há um ponto de ônibus perto de casa, a duas quadras. Andar de social em um ônibus com uma enorme pasta de currículo e comprovantes de cursos não é a melhor sensação do mundo. Todos me olhavam como se eu fosse estranha, podia ouvir o burburinho das pessoas atrás de mim espantadas por meu traje, achei até cômico quando desci no ponto na frente do Hospital.

Entrei pela emergência e vi um médico e uma enfermeira conversando, me aproximei deles e perguntei como fazia para falar com o Dr. Scalzaria. A enfermeira me olhou de cima em baixo enquanto me perguntava o que eu queria com ele, respondi que tinha uma entrevista marcada e ela me disse para segui-la. O médico ficou lá parado, não disse nada, apenas pegou alguns papéis na bancada e seguiu para uma das salas de consulta. O estranho é que ele me pareceu tão familiar... apesar de eu não saber o nome dele.

A enfermeira, que descobri chamar June, me levou até a sala do curador e me pediu para esperar lá fora. Enquanto ela entrou e fechou suavemente a porta atrás de si, eu fiquei observando os quadros na parede do corredor; neles havia fotografias com vários médicos famosos que trabalharam no Hospital com seus respectivos nomes e especialização a baixo. Só não achei nenhuma foto do médico que vi ao entrar, talvez ele fosse novo...

- Pode entrar na sala. - June disse ao sair. - O doutor a espera.

- Obrigada.

Confesso que entrei pela porta entre-aberta meio insegura, apesar de tentar parecer confiante. Mas o que eu não esperava aconteceu, ele estava lá parecendo realmente contente em me ver, chegando tão perto que quando percebi já estava me abraçando em um longo abraço de amigos.

- É bom vê-la Mel, juro que achei que talvez não viesse.

Ele sorriu enquanto recuava alguns passos e me olhava com seus lindos olhos azuis. Sabe que se não fosse comprometida e não quisesse tanto ser sua funcionária, eu não ligaria para os oito anos de diferença entre nossa idade... Mas o que ele havia acabado de me dizer, me intrigou...

- Mas porque eu não viria?

- Mel - ele parou e refletiu um pouco, - estamos passando por certas dificuldades, grande parte dos médicos acabou optando por outros Hospitais e nosso quadro médico está bem comprometido...

Por essa eu juro que não esperava! O Hospital em que nove entre dez estudantes de nossa Universidade sonhava em trabalhar estava em decadência assim? Mas eu não desistiria! Estava entretida em meus pensamentos e oops... só aí reparei que ele ainda estava falando....

- ... então vou entender se não aceitar o emprego...

- Eu quero! - Dei um salto involuntário toda eufórica, depois tentei me controlar e contornar a situação. - Digo, eu quero sim o emprego, senhor. Era tudo o que sempre quis desde meus tempos de Universidade. O senhor está me dando uma chance e tanto! - Oops, outro deslize involuntário, dei um pulinho segurando as mãos. - Quando começo?

Ele mexeu no cabelo, e tentando encobrir a felicidade disse.

- Já... se quiser pode conhecer o nosso único médico, tirando eu próprio, o Dr. Carlisle Cullen.

Uau, alguém com sobrenome conhecido. Aliás, não que Cullen seja tão comum assim...

- Claro!

- Depois de apresentá-la, vou levá-la ao RH para que preparem a sua papelada de admissão, e também para que possa fazer os exames de rotina para a contratação.

Saímos pelo corredor enquanto ele falava, eu carregava minha pasta e meu sobretudo, um em cada braço, como sempre eu sou a atrapalhada...

Chegamos na sala de emergência, o Dr. Cullen estava terminando de atender uma senhora que estava na maca tomando soro intravenoso.

- Pelos resultados de seu exame, senhora Wilson, poderá sair em duas horas, tão logo o soro acabe.

Ele examinou os papéis dela uma última vez e se despediu com um sorriso, foi nessa hora que o Dr. Scalzaria o chamou.

- Dr. Cullen...

Ele parecia distraído, mas atendeu prontamente ao chamado.

- Sim?

- Dr. Cullen esta é Melinda, a antiga estudante da Universidade que eu disse que iria contratar. E, Melinda este é o Dr. Carlisle Cullen, nosso único médico do Hospital no momento...

Nós dois demos as mãos, depois de eu quase derrubar o meu casaco transferindo-o para o antebraço com a pasta. Ele deveria estar congelando de frio, pois sua mão estava super gelada, afinal nevava lá fora e a temperatura interna do prédio também não estava tão elevada.

- Bem vinda, doutora - ele sorriu.

Scalzaria disparou em falar.

- Será bom termos mais uma doutora aqui, já que estamos sozinhos há uma semana. Aliás, verei já no RH para que ela comece o quanto antes, assim você poderá tirar as suas noites de sono atrasado, Dr. Cullen.

De fato, com em uma pele tão branca como a dele, as olheiras ficavam visivelmente marcadas em seu rosto.

- É, parece bom dormir um pouco...

Scalzaria sorriu e me chamou.

- Vamos Melinda, o RH é mais adiante.



Carlisle

Eu estava no plantão quando uma jovem de longos cabelos castanhos e roupa social entrou pela porta do pronto socorro. Suas feições realmente me lembravam alguém... Mas no momento estava tendo que prestar atenção no que a enfermeira June Joy estava tentando tirar de mim, um atestado para uma falsa dor de cabeça para seu filho que não ia à escola há duas semanas. Eu queria acreditar que o menino tinha bons motivos para não querer ir à escola e concordei, desde que visse o menino antes.

- Sabe o que é Dr... é que ele perdeu algumas aulas porque estava em uma viagem.... - Depois de uma pausa para que ela pudesse pensar em uma boa desculpa. - E lá ele ficou doente! É, lá ele ficou doente... E não pôde ir quando voltou.

- Joy, não é que eu não acredite em você – “porque não acredito mesmo, você mente mau”, era o que realmente eu queria dizer, - mas é que se ele está doente, precisa ser medicado e não apenas pegar um atestado.

- É que ele não gosta de filas... não tem paciência para esperar...

- Mas não costuma demorar tanto as consultas assim...

- É que...

Neste momento a garota que havia passado pela porta chegou até nós e timidamente disse.

- Por favor, aonde fica a sala do Dr. Scalzaria?

Joy, que só a notou neste momento, a observou dos pés a cabeça - até eu me senti desconfortável com a situação. Eu já a havia notado desde o momento em que passou pela porta, sacudiu o casaco cheio de neve, olhou para os lados e decidiu vir a nós por causa do meu jaleco e das roupas de Joy, provavelmente.

- O que você quer com o doutor? - A enfermeira perguntou de forma um pouco rude.

- Eu tenho uma entrevista com ele...

Ela nem pode terminar de falar, Joy já havia começado a andar com apenas um “siga-me”. A enfermeira não ofereceu ajuda para carregar as coisas da moça e ainda apertou o passo para fazê-la correr um pouco - definitivamente June Joy estava com ciúmes, a mesma reação que eu podia notar nela quando Esme vinha me ver ou Chandra vinha ver Andrew.

Depois de toda a cena, segui meu protocolo: apenas peguei as fichas dos próximos pacientes e voltei ao trabalho. Como era o único no plantão, eu não gostava da ideia de saber que haviam pessoas esperando para serem realmente atendidas, com dores reais enquanto uma enfermeira me enrolava para conseguir um atestado para o filho que saiu para festejar. Algum dia eu teria que agradecer aquela moça por me salvar.

Quanto aos pacientes neste Hospital, eles eram a maior parte pessoas pobres que não podiam pagar por um Seguro Saúde ou Plano de Saúde que lhes oferecesse atendimento digno em um Hospital particular. Minha sorte era que como estava trabalhando sozinho podia fazer os procedimentos corretos, mesmo que eles fossem caros, afinal a Universidade incentivava estudo de casos raros nas clínicas e o paciente não precisava pagar nada por isso. Tudo o que eu precisava fazer era convocar os estudantes e residentes para me acompanharem enquanto explicava os procedimentos, é claro, que eles passavam o tempo todo “me testando”, mas isso nunca me incomodou. A reação deles era o que me deixava feliz, eu não aparentava ser tão mais velho que todos eles, mas ao mesmo tempo sabia muito mais do que médicos com aparência mais velha que a minha.

Naquele momento, vários pacientes me aguardavam e eu ainda precisava liberar uma senhora que sofreu desnutrição e estava recebendo soro em uma maca em um dos leitos da emergência. O tempo de eu atender três pacientes mais esta senhora foi o suficiente para Scalzaria e a garota aparecerem para falar comigo.

- Dr. Cullen... - Eu fingi estar distraído quando fui chamado, era bem humano da minha parte.

- Sim?

- Dr. Cullen está é Melinda - Scalzaria gesticulava enquanto apresentava a garota que há pouco havia entrado coberta de neve pela emergência e provocado a ira ciumenta de uma enfermeira - a antiga estudante da Universidade que eu disse que iria contratar. E, Melinda este é o Dr. Carlisle Cullen, nosso único médico do Hospital no momento...

Ela pareceu impressionada com a palavra “único”, mas estendeu a mão para mim. Nos demos as mãos, e eu pude perceber que a doutora percebeu como o meu toque era frio em relação ao dela, porém percebi também que ela não tentou recuar, então eu o fiz. Ela parecia se preocupar demais com a reação dos outros para deixá-los desconcertados.

- Bem vinda, doutora - foi tudo o que pude dizer para definitivamente quebrar o gelo.

Antes mesmo que ela pudesse responder, Scalzaria disparou falando e gesticulando para nós.

- Será bom termos mais uma doutora aqui, já que estamos sozinhos há uma semana. Aliás, verei já no RH para que ela comece o quanto antes, assim você poderá tirar as suas noites de sono atrasado, Dr. Cullen - bem, ele não me conhece... eu poderia ficar anos trabalhando sem nem me preocupar com o fato de ser o único médico do Hospital, mas ele era humano e tive que parecer concordar definitivamente com a ideia.

- É, parece bom dormir um pouco... - Não que eu de fato o fosse fazer.

Passado as apresentações, ele puxou suavemente a doutora para o corredor.

- Vamos Melinda, o RH é mais adiante.

Definitivamente, seria mais difícil convocar os estudantes para quase todos os pacientes agora... Mas ela tinha algo de familiar, só não pude distinguir o que...

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...